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domingo, 9 de novembro de 2014

Olhando para a História: Vargas, JK, Jango, Lula, Dilma e a Oposição ao Desenvolvimento do Brasil

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Por Laurez Cerqueira 
Fonte: Jornal GGN

Todos os governos desenvolvimentistas brasileiros foram atacados, solapados, um deles derrubado. Foi assim com Getúlio Vargas, com Juscelino Kubitschek, com João Goulart, com Lula e com Dilma. Um ranço da República Velha e da Revolução de 1930, que insiste em retardar o desenvolvimento do Brasil. Parece que não querem o País como potência mundial.

Nunca perdoaram Getúlio Vargas por ter criado o contrato de trabalho e as estatais de infraestrutura. Antes o trabalhador era quase um escravo. A CLT garantiu o direito a férias, décimo terceiro salário, FGTS, hora-extra e outros direitos.

Getúlio Vargas
Além desses, Vargas estabeleceu o salário mínimo, a previdência social, a escola pública e a saúde pública. Criou estatais estratégicas para o desenvolvimento do Brasil como a Eletrobrás, o Banco do Nordeste, a Vale do Rio Doce, a CSN para processar nosso aço, a Petrobras, empresa criada com apoio do movimento sindical e estudantil na campanha “O petróleo é nosso”.

Naquele momento as petroleiras, principalmente a Esso, a Shell e a Texaco, que faziam parte do cartel internacional chamado “sete irmãs”, diziam que não havia petróleo no Brasil. Evidentemente para o Brasil continuar comprando gasolina e óleo diesel delas.

As “três irmãs” bancavam a imprensa brasileira da época com gordos anúncios. O melhor exemplo disso é o Repórter Esso, uma espécie de porta-voz da UDN, que foi ao ar pela primeira vez em 28 de agosto de 1941 (uma versão norte-americana de "Your Esso Reporter").
Ao criar a Petrobras, Vargas desafiou o conluio de petroleiras e imprensa. O ódio da imprensa da época veio imediatamente destilado em manchetes garrafais contra ele. Entre os inúmeros ataques, o jornal O Estado de São Paulo guarda em seus arquivos um memorável editorial, radicalmente contra a criação da estatal.

Vargas, que nunca ostentou riqueza, foi bombardeado dia e noite com acusações de corrupção. Seu governo era chamado pelos jornais e rádios da época de "mar de lama". Acuado pelos ataques da UDN, de seu líder maior, Carlos Lacerda, da imprensa que servia a ela, e dos militares, arrasado moralmente pelo massacre de notícias levianas, Vargas se matou. As mesmas forças que o levaram ao suicídio tentaram, em seguida, impedir a posse de Juscelino Kubitschek, mas foram frustradas pela operação comandada pelo general Henrique Lott, que garantiu a cerimônia. JK retomou o projeto desenvolvimentista de Vargas com o Plano de Metas “50 anos em 5”.

Juscelino Kubitschek
Com JK, o Brasil, que era uma grande fazenda, de agricultura, na sua grande extensão, ainda rudimentar, onde fazendeiros de Goiás se divertiam nos finais de semana cassando índios, atirando só para ver o tombo, cresceu, deslanchou a industrialização, expandiu a malha rodoviária, elétrica e telefônica, e construiu Brasília, como parte da “Marcha para o Oeste”. No governo dele, a cultura floresceu com o Cinema Novo, o teatro, a literatura, o futebol, com a vitória do Brasil na Copa de 1958. Tudo isso embalado pela Bossa Nova elevou a autoestima dos brasileiros, projetou o Brasil no mundo e proporcionou um sentimento de futuro promissor.

Mas, mesmo assim JK comeu o pão que o diabo amassou. Durante seu mandato, as mesmas forças políticas juntamente com a imprensa familiar que servia a elas, atacou JK diuturnamente com acusações de corrupção dizendo ser “o governo mais corrupto da história do Brasil”. JK sofreu duas tentativas de golpe, apoiadas por setores conservadores. Morreu num controvertido acidente de carro em agosto de 1976, durante a ditadura militar.

O massacre midiático com acusações de corrupção a JK criou o ambiente para a candidatura do desengonçado gramático Jânio Quadros. Jânio foi lançado como o grande salvador da pátria, o homem que iria varrer a corrupção do Brasil. O símbolo da campanha dele era uma vassoura. Mas apenas varreu a sujeira para debaixo do tapete.

Jânio Quadros
Jânio foi uma marionete nas mãos dos conservadores para barrar as forças políticas progressistas lideradas por Leonel Brizola e outros políticos ligados à reforma social. Sete meses depois da posse, Jânio renunciou.

Com a renúncia de Jânio, o vice João Goulart, ex-ministro do trabalho de Getúlio Vargas, assume a Presidência da República. João Goulart, o Jango, resgata o projeto de desenvolvimento de Vargas e JK, amplia os direitos sociais, dobra o salário mínimo e tenta governar aliado aos trabalhadores.

João Goulart
Jango quis fazer as reformas de base, políticas públicas para inclusão social centradas na educação, na saúde, na reforma agrária, e em outras áreas, que ajudaria o Brasil a superar as injustiças principalmente com as populações afrodescendentes e indígenas, escravizadas e vilipendiadas desde o período colonial. 

Em 1964, o Brasil pulsava, vivia um raro momento de liberdade e de criatividade na música, no teatro, no cinema, na literatura, nas artes plásticas, nas universidades, na política e na vida social.

Os conservadores reagiram a isso e começaram a atacar Jango barbaramente da mesma forma que Getúlio e JK foram atacados, acusado pela imprensa familiar de corrupção e de querer implantar no Brasil uma “República Sindicalista”.

Durante todo o seu curto governo foi vítima de uma cruzada da imprensa devastadora e finalmente deposto pelo golpe militar articulado no Congresso juntamente com a Embaixada dos EUA, com a participação da CIA, como mostram documentários produzidos recentemente. Em seguida, o Brasil entra para o calvário em 21 anos de uma ditadura torturadora.

João Goulart morreu em sua fazenda, na Argentina, também de forma suspeita, com versões controvertidas sobre sua morte. Ele era um dos nomes de políticos, vigiados por militares brasileiros, constante da lista da “Operação Condor” para ser eliminado, segundo depoimentos prestados na Comissão da Verdade e em livros publicados sobre o caso. A Operação Condor era formada por militares e policiais de ditaduras da América do Sul, coordenada pela CIA, para eliminar líderes opositores aos regimes ditatoriais.

Com o fim do regime militar e a volta das eleições diretas, setores conservadores, com forte apoio da imprensa familiar, inventaram a candidatura de Fernando Collor, nos mesmos moldes da candidatura Jânio Quadros, a fim de barrar as candidaturas de Lula e de Brizola, que despontavam como alternativas da esquerda com forte respaldo nos movimentos sociais. Movimentos organizados, que fizeram a campanha por eleições diretas, participaram dos debates no Congresso Constituinte, além de outras coisas, ampliaram direitos para consolidação da democracia e da cidadania. 

Fernando Collor
Collor, vendido à opinião pública como “moderno”, declarou guerra à "Era Vargas", ao Estado e aos direitos sociais e trabalhistas.

Empolgado com as ideias neoliberais dos governos de Margareth Thatcher, da Inglaterra, e Ronald Reagan, dos EUA, Collor queria reduzir o Estado ao mínimo com privatização irrestrita de empresas públicas e reformar a CLT. Eleito como "caçador de marajás", o homem que também iria varrer a corrupção no País, por ironia da história, acabou impedido por corrupção.

Fernando Henrique Cardoso foi outro presidente obstinado pelo fim da "Era Vargas". Determinado a levar a cabo o que Collor começou, Fernando Henrique deu continuidade à redução do Estado com a venda de empresas estatais, que ficou conhecida como “privataria tucana” tendo em vista a promiscuidade entre governo e mercado na formação dos consórcios compradores.

Fernando Henrique Cardoso
Além disso, tinha a ideia fixa de que o “mercado” resolveria os problemas do Brasil. Investiu contra conquistas sociais dos trabalhadores, mas os trabalhadores organizados não permitiram que o estrago fosse maior.

Lula e Dilma fizeram exatamente o inverso dos governos Collor e Fernando Henrique. Colocaram o Estado como indutor do projeto de desenvolvimento sustentável com inclusão social e redução das desigualdades sociais e regionais. Fizeram governos democráticos, de diálogo, aberto à participação de trabalhadores e empresários. O famoso “Conselhão” e outras instâncias foram criados para isso.

O fato é que, com essa estratégia o Brasil passou de 13ª maior economia do mundo, em 2002, para a 7ª posição. O PIB que era R$ 1,55 trilhão, em 2003, saltou para R$ 4,84 trilhões em 2013. Outros robustos indicadores demonstram melhoria generalizada em muitas outras áreas, principalmente em relação à inclusão social e à superação da pobreza. 

Lula
Ocorre que os governos Lula e Dilma, de caráter desenvolvimentista e de inclusão social, têm sofrido as mesmas perseguições que os governos Vargas, JK e Jango. Sobreviveram, desde 2003, a ataques quotidianos, impiedosos, com o mesmo ranço golpista que caracterizaram momentos históricos passados. Como se o Brasil não pudesse tornar-se uma potência econômica desenvolvida. As informações sobre os feitos do governo têm sido deliberadamente bloqueadas pela velha imprensa familiar e em seu lugar, ataques incessantes. Mesmo no limite da indignação, em nenhum momento a liberdade de imprensa foi violada.

Isso ficou claro nas eleições deste ano com a transformação de publicações semanais e telejornais em verdadeiros panfletos eleitorais em favor do candidato da oposição. Destilaram ódio e preconceitos à exaustão, de forma subliminar, na disputa eleitoral, jogando o povo contra o governo de forma irresponsável. O candidato Aécio Neves dizia que iria “varrer” o PT do governo, como se o Estado fosse uma propriedade da elite, como se o PT estivesse usurpando o poder. Um verdadeiro ralhado da Casa Grande à Senzala.

Dilma
Lá no fundo da história, revirado pelo vale-tudo para ganhar a eleição a qualquer custo, estava o atraso, mergulhado no pântano da intolerância, dos preconceitos de todo tipo, sobretudo se alimentando do ódio de classe. Aécio Neves não teve o menor pudor de trazê-lo de volta à tona. Andou de braços dados durante toda a campanha eleitoral com setores mais atrasados do País, que o processo de democratização se encarregou de colocá-los no ostracismo. Hoje o atraso brada contra a democracia, se espraia pela internet e pelas ruas em ondas de intolerância, principalmente entre jovens vulneráveis a seus apelos. O atraso está por aí, vociferante, atacando cidadãos.

Quem deu voz e trouxe a extrema direita para o centro da política brasileira, e flerta com ela, foi o PSDB, um partido que assumiu a ideologia da velha UDN. Isso não começou agora. O candidato Alkmin com sua Opus Dei, o candidato Serra se valendo do extremo conservadorismo, o candidato Aécio com Bolsonaro, o ex-presidente Fernando Henrique escrevendo contra o diálogo proposto pela Presidenta Dilma, e o Líder do PSDB, Carlos Sampaio, com ação na justiça pedindo recontagem de votos digitais, todos alimentando o ranço golpista, são os verdadeiros responsáveis pelo retrocesso na política, pelas ameaças à democracia e aos governos de desenvolvimento sustentável e inclusão social.
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sábado, 8 de novembro de 2014

Tiradas rápidas – Memórias póstumas da ditadura

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Por: João Paulo Ribeiro

Quando acordei, estava rodeado de comunas vermelhos e armados. 

Preso a uma cadeira, com a cabeça imobilizada e os olhos mecanicamente abertos, fui denunciado em um slide projetado na parede.

Um post publicado ontem que tripudiei da presidente por causa da gasolina mais cara...


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A república do café e a democracia do champagne vencido

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Por João Paulo Ribeiro

13 de março de 1964. 

João Goulart faz um discurso histórico dirigido às reformas de base na Central do Brasil. Inúmeros trabalhadores, filhos de um sistema falido, escravagista, em prol do mercado (mão invisível que açoita), estavam atentos às palavras que ele antecipou como rudes, mas de fácil compreensão.


No início, um ponto chave:

“...Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas...”

Ah, o atentado a democracia! Lembra algo recente... 


Desde a república velha, uma classe abastada financeiramente se impôs em consolidar o regime político sob a sua égide. A descentralização do poder nas oligarquias representou uma contrariedade aos anseios militares. 

Nesse meio o povo, demos sem kratos, constituiu-se de soldados abocanhados pelo sistema. Davam sustentação ao período do café paulista, do leite mineiro, da borracha do Norte e por consequência ao poder da burguesia que lutava entre si pelo poder. Os tentáculos da imprensa eram fundamentais para defender esse interesse e atacar quando o sistema era ameaçado.

Foi assim com Getúlio Vargas, um populista de ocasião, que várias vezes foi ameaçado pelo golpe do medo holofotizado pela imprensa.

Com João Goulart não foi diferente. Um transformista, que sucedeu o controverso Jânio Quadros, estava enclausurado em plena efervescência política e os inimigos que o rodeava eram muitos. Segue o discurso:

“...Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.

A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam.

A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício...”

Li o discurso de novo para ver se não houve plágio, mas não.

“...Ameaça à democracia não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tentar levar o povo a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das mais expressivas figuras do episcopado brasileiro...”

Sucedeu-se então a um movimento encabeçado pelos setores mais reacionários da sociedade: classe média e alta, Igreja Católica, imprensa, militares. Todos abraçaram a falácia da ameaça ao sistema burgocrático e depuseram Jango do poder. 

Os militares então assumiram o poder e o resto da história já é sabida, ou pelo menos sua essência.


Hoje, os ruídos da democracia ferida reverberam nesse DNA do cafeeiro. A república cafeeira e seus arautos representantes perpetuam desde 1889 essa astúcia sanguinária de gravata e aparelhada por uma máquina de fabricar mentiras, de amplificar delitos alheios, um desejo de golpe eterno. 

Os tempos são outros e hoje, amigos, a semente do demos com Kratos fez perder a validade do champagne da mídia e amargou o café. 

O leite já é nosso.

Viva a memória brasileira! Viva o Jango! Viva o povo brasileiro! 

Mesmo mergulhados em contradições nunca se viu tanta voz dos porões.

E como a democracia faz barulho!
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Bandido Bom é Bandido Preso ou Morto

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Entre os anos de 1760 e 1840 o mundo assistiu a um conjunto de transformações tecnológicas, econômicas, políticas e sociais que criaram a base para a expansão do modo de produção capitalista.  A princípio essas transformações ficaram circunscritas à Inglaterra e foram chamadas de Revolução Industrial.O caráter revolucionário dessas transformações consistiu em reunir todas as condições necessárias para ampliar a produção e concentração de riquezas.


Ao passo que a riqueza era ampliada e concentrada nas mãos de alguns poucos, tantos outros padeceram por causa da sua desigual distribuição. A consequência disso foi a pauperização das classes mais subalternas das sociedades capitalistas, que ao fim do século XIX se tornou tão visível, que medidas tiveram que ser tomadas para conter a pobreza. De um lado a pobreza foi tratada como caso de polícia. Os pobres eram alvo da ação policial porque eram considerados vagabundos. De outro, a naturalização da pobreza acabou distanciando-a de suas verdadeiras causas.

A naturalização da pobreza compreende aquelas estratégias de atribuir ao indivíduo a culpa por sua condição de pobreza: "é pobre porque é vagabundo"; "é pobre porque não gosta de trabalhar". Dois erros estão explicitados nesta forma de pensar: 1) A admissão de que a vagabundagem é uma condição natural de algumas pessoas, como se fosse um sinal de caráter ou algo parecido; 2) A admissão de que existe emprego suficiente para todos e basta querer trabalhar para se ter uma vida melhor.

A vagabundagem não é uma condição natural, não é uma espécie de característica de personalidade. Esta é uma visão muito simplista, cuja função é ocultar que a pobreza está ligada  às condições sociais produzidas pelo funcionamento do sistema de produção capitalista. E por falar em capitalismo, neste sistema não há e nem nunca haverá empregos para todos. Marx fala do "exército de reserva". O exército de reserva compreende a força de trabalho que excede as necessidades da produção. Em outras palavras, o exército de reserva é formado pelo contingente de trabalhadores não inseridos no mercado de trabalho. Este contingente é usado para exercer pressão sobre os trabalhadores já inseridos no mercado de trabalho, de modo que a sua manutenção é sempre funcional aos anseios do capital.

O sistema é desculpabilizado quando o indivíduo é culpado por sua condição de pobreza. Naturalizar a  pobreza ao longo do século XIX foi uma forma de manter intocado o sistema. Mais de um século depois da Revolução Industrial muitos fenômenos sociais continuam sendo tratados a partir de uma perspectiva naturalizante. Esta é uma forma de desligá-los de suas verdadeiras causas: falta de acesso às condições para se viver uma vida mais digna. Falta de acesso aos serviços de saúde, falta de acesso a uma educação com qualidade, falta de acesso à cultura, etc.

A exemplo da pobreza, que durante o século XIX foi tomada como fenômeno natural, a criminalidade é mais um fenômeno social tratado a partir da perspectiva naturalizante. Por isso que muitos pensam que bandido bom é bandido preso ou morto. Ninguém quer admitir que a criminalidade tem relação com a concentração de riqueza e com a falta de acesso a serviços essenciais para se viver uma vida mais digna. Para a criminalidade restam duas alternativas: cadeia ou morte. Se lembrarmos que nosso sistema prisional não prepara ninguém para retornar à vida em sociedade e que funciona muito mais como escola do crime do que como meio de ressocialização, chegaremos à constatação que investir em sua ampliação, apesar de necessário, não produz resultados significativos na diminuição da criminalidade. O gráfico abaixo ilustra bem essa realidade:


Em 2000 o sistema prisional brasileiro possuía 135.710 vagas, enquanto a população prisional era de 232.755 apenados. Já em 2010 o sistema possuía 281.520 vagas, enquanto a população prisional era formada por 496.251 apenados. Só em 2010 havia um déficit de 214.731 vagas. Isso significa que a ampliação do sistema nunca foi e nem tem sido suficiente para conter o fenômeno da criminalidade. As prisões, apesar de necessárias, agem somente sobre efeitos. Elas ocultam a criminalidade como a pobreza foi ocultada no século XIX ao ser tratada como problema de polícia e ao ter suas dimensões sociais confundidas com fenômenos naturais. 

Exterminar os bandidos não é também a melhor estratégia. Além de não ser humana é também imoral. O artigo terceiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos garante que todos têm direito à vida, e é bom lembrar que o Brasil é signatário desta declaração. Defender este tipo de atuação abre precedentes para a ampliação da violência, justificando a existência de grupos de milícias que agem na clandestinidade. A essa altura você deve estar dizendo: "leve, então, o bandido para a sua casa". Rachel Sheherazade concordaria com você...

Então, qual é a solução? A solução começa pela mudança na maneira de nos referirmos às pessoas que cometem crimes. Ao invés de chamá-las de bandidos, deveríamos tratá-las como pessoas que em função de certas circunstâncias acabaram cometendo um crime. Chamar de bandido é tratar toda a situação de modo pejorativo. Para você entender, usarei um exemplo bem simples: uma coisa é chamar alguém de maconheiro e outra muito diferente é considerar que o uso de um entorpecente é um problema que precisa de tratamento. Entre "maconheiro" e "dependente químico" existe uma distância muito grande. Entendeu o quer que desenhe? 

Tratar alguém como maconheiro leva-nos a privá-lo das oportunidades de recuperação. Mas ao tratá-lo como dependente químico, nossa visão da situação se altera de tal modo, que passamos a pensar nas medidas que precisam ser tomadas para que o problema seja tratado. Com uma pessoa que comete um crime não é diferente. Por que desumanizá-la só porque ela precisa pagar pelo que fez? Por que ela precisa ser exterminada? Por que ela merece apodrecer na cadeia?

Não seria melhor pensar de forma diferente? Que oportunidades faltaram a essa pessoa e que fizeram-na se envolver com a criminalidade? A criminalidade é um fenômeno complexo demais para ser naturalizado. Não pode ser tratado apenas como problema policial, pois o que produz a criminalidade vai muito além do imediatamente acessível à percepção. Lembro-me agora do filme Faroeste Caboclo. O filme conta a história de João de Santo Cristo, um jovem negro que fugindo das condições de pobreza do nordeste foi parar em Brasília-DF. Não encontrando meios para manter a sua sobrevivência, acaba se envolvendo com o tráfico de drogas. 

João Passou a disputar território com um traficante que fazia parte das classes mais abastadas da sociedade brasiliense e que se chamava Jeremias. A disputa não poderia ser menos desleal. Jeremias sendo rico e tendo canais dentro da Polícia Civil, submeteu João a todo tipo de humilhação. No final Jeremias e João acabaram mortos depois de uma emboscada armada pelo pobre jovem negro que só saiu de sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Todos sabem que o filme é inspirado na letra de uma música do extinto grupo musical chamado Legião Urbana. 

A letra termina assim: "Ele queria era falar pro presidente / Pra ajudar toda essa gente que só faz  /
Sofrer". João só queria uma vida mais digna. Não queria ser tratado como bandido. Queria poder amar, trabalhar e realizar os seus sonhos. Quantos Joãos existem por aí? Quantos Joãos não estão sendo incriminados só porque são pobres?

Bandido bom não é bandido morto ou preso! Ao invés de culparmos somente os indivíduos, por que não olhamos um pouco mais para a sociedade em que vivemos? Sociedade boa é aquela que oferece as melhores oportunidades para as pessoas descobrirem as suas potencialidades e não aquela que lida com as mazelas que produz apenas matando e encarcerando.

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A Variação no Número de Miseráveis no Brasil: existe motivo para pânico?

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Por Esequias Caetano

A mídia tem noticiado de forma frenética que "o número de miseráveis cresce pela primeira vez no Brasil desde 2003". E isso é um fato. Desde que o PT assumiu o poder, é a primeira vez que há um crescimento no número de brasileiros com renda inferior à minima necessária para pelo menos garantir a própria subsistência. Cerca de 371 mil pessoas passaram a viver como indigentes. Mas o quanto esse aumento é,  realmente,  motivo para tanto alvoroço?

Conforme o leitor pôde observar no gráfico abaixo, extraído do próprio IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a quantidade de pessoas em situação de miséria vinha caindo praticamente em queda livre nos últimos 10 anos.


Entre 2003 e 2012 a redução no número de pessoas em pobreza extrema foi de quase 62%. A tendência de queda vinha se confirmando há muitos anos, mesmo em meio a crises que assolaram o mundo inteiro, como a de 2008.

Se olharmos um pouco mais para trás na história do Brasil, descobrimos que nunca, desde o final do governo do General João Figueiredo (1985), havíamos experimentado uma redução tão drástica na quantidade de pessoas em condição de miséria. Foi naquele ano que conseguimos superar a ditadura militar e eleger Tancredo Neves, morto pouco antes de assumir o cargo e substituído por seu vice José Sarney. Muita gente conseguiu subir na vida e conquistar condições mais dignas de subsistência.

Os ganhos experimentados com a queda do regime militar, porém, não duraram muito. Pouco tempo depois que Sarney assumiu a chefia da república o brasileiro observou um novo e tenebroso  aumento na quantidade de pessoas em pobreza extrema. Entre 1986 e 1988 o número de indigentes saltou de pouco mais de 11 milhões para quase 28 milhões, o que equivale a um crescimento de 245%. Apenas cinco anos depois, no governo Itamar Franco, o Brasil voltou a comer.

Com a adoção do Plano Real houve uma redução de 22% na quantidade de pessoas em situação de miséria. O número de indigentes caiu de quase 29 milhões para pouco menos de 24 milhões entre 1993 e 1995. O já tantas vezes frustrado povo brasileiro, mais uma vez, pôde sonhar com uma vida digna. Se formos ainda mais longe, era a primeira vez desde 1979 que uma medida poderia gerar resultados duradouros no combate à fome. Mas mais uma vez a alegria não durou muito.


Em 1994 Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência da república e em pouco tempo a miséria voltou a assombrar o país. Em seu governo o brasileiro novamente precisou conviver com o aumento da fome. Quase diariamente lia-se nos jornais, via-se na TV e ouvia-se no rádio que a quantidade de mortes por desnutrição vinha crescendo. E não era por acaso.

Nos oito anos em que o tucano esteve à frente do país, a quantidade de miseráveis saltou de aproximadamente 22 milhões para mais de 26 milhões de pessoas. O fôlego gerado pela implantação do Plano Real não conseguiu resistir à sua gestão. As demissões em massaa taxa de juros chegando a quase 50%, o descontrole da inflação, entre outras coisas, certamente contribuíram para que o Brasil mais uma vez passasse fome.

Em 2003 Lula finalmente assumiu a presidência da república, após ser derrotado em 1989, em 1994 e em 1998. O primeiro ano de seu mandato foi marcado pela adoção de uma série de medidas que visavam não só o crescimento do país, mas principalmente, a melhoria na qualidade de vida da população. Em apenas um ano ele foi capaz de fazer a miséria recuar quase 13%, levando mais de dois milhões de brasileiros a transpor a linha da extrema pobreza. Desde então o número de miseráveis não parou mais de cair, até 2013, no governo de Dilma Rousseff.

A imprensa brasileira tem pregado o desespero desde que foram divulgados os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que apontaram a interrupção do período continuo de redução na miséria. Conversando com as pessoas na rua, tudo o que se vê é medo. De acordo com o noticiário, o país está entrando em colapso. Isso é repetido tantas vezes que até os mais céticos acabam acreditando. Apesar disso, ao contrário do que disse Joseph Goebbels, uma mentira contada mil vezes não se torna uma verdade. Continua sendo uma mentira, só que com uma quantidade maior de pessoas acreditando  nela. Vejamos porque.

Embora seja péssimo saber que o número de miseráveis no Brasil aumentou, esse aumento é muito pequeno diante das quedas conquistadas nos últimos anos e dos aumentos que já experimentamos. Nem é preciso ir longe para constatar que este aumento é absolutamente inexpressivo. Se tomarmos como referência  a PNAD de 2011, ainda tínhamos quase 12 milhões de miseráveis no país. Na de 2013 tínhamos 10,452 milhões. Temos um saldo positivo. 

Em uma entrevista sobre o assunto, Aloízio Mercadante afirmou que variações como esta são comuns em estatística. E se pesquisarmos um pouco, descobrimos que de fato são. Quem se lembra do aumento na taxa de analfabetismo no Brasil em 2012? Uma busca no Google pelas noticias da época revela que a mídia teve exatamente o mesmo comportamento diante do resultado negativo: transformou-o em uma catástrofe! Mas pouco se falou de 2013, quando o Brasil voltou aos trilhos e o analfabetismo voltou a cair. E é assim que a imprensa brasileira se comporta.

Faz muito pouco tempo que uma das principais manchetes de nossos jornais era "A taxa de desemprego sobe pela primeira vez desde 2009". Diariamente o tema se tornava assunto em rodas de discussão entre economistas na Globonews, tornava-se capa das principais revistas brasileiras e era assunto de longas entrevistas com especialistas na área. Quando voltou a cair pouco se falou a respeito. Quase nada, na verdade.

Não há motivos, portanto, para pânico. A tom catastrófico com que o tema tem sido abordado é característica da mídia brasileira. Variações como esta acontecem frequentemente com vários indicadores sociais, e aqueles que não tiveram sua  primeira vez, ainda vão ter. Esta foi a vez do indicador de miséria. 

O que também tem contribuído para a instalação do medo, talvez até mais que o tom catastrófico em si, é a repetição deste mesmo tom em diversos locais diferentes na mídia. Ao contrário do que pensam os desavisados, esta repetição não é indicativo de gravidade, mas sim, do grande oligopólio pelo qual a mídia brasileira se organiza. Para que você, leitor, tenha ideia quão grande é este oligopólio, analise o seguinte. Os grupos Abril, Globo,  Band e Records, sozinhos, são proprietários de 40%  de todos os veículos da mídia (TV, online, impressos e rádio) brasileira.  Enquanto estes quatro grupos controlam uma parcela tão grande da imprensa, outros 37 pequenos grupos controlam o restante. Entre estes pequenos grupos destacam-se a RedeTV, a União, a Canção Nova e a Aparecida - praticamente desconhecidos do público, e consequentemente, com audiência muito inferior aquela obtida pelos quatro anteriores.

Para ilustrar o alcance destes quatro grupos, tomemos como exemplo a Editora Abril e a Globo. Imagine que a Editora Abril adote um posicionamento específico sobre algum tema. A critério da Direção de Jornalismo da Abril, esse posicionamento poderá ser repetido em cerca de 74 revistas, entre elas, algumas daquelas com maior circulação nacional, como a Exame, Exame PME, Info Exame, Info Corporate, Mundo Estranho, National Geographic, Você S/A, Negócios S/A, Revista da Semana (São Paulo), Veja, Viagem e Turismo e Vida Simples - faltam muitas ainda!

Continuando o exercício, imagine que a Globo adote o mesmo posicionamento da Editora Abril. A globo é detentora de 340 veículos de mídia, dentre os quais estão também alguns daqueles com maior audiência no país, como a própria Rede Globo de Televisão, a Globonews, o Portal G1, o Jornal O Globo, a Revista Época, a Época Negócios, Revista Extra, Revista Galileu, Canal GNT, Monet, Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, Rádio Globo, Autoesporte, sem contar as tantas rádios e outros canais de TV do mesmo grupo que não foram citados. Basta a direção de jornalismo da empresa dar uma ordem para que todos estes veículos reproduzam o mesmo posicionamento sobre algum tema.

Observe que mencionei uma parcela ínfima dos veículos de comunicação que pertencem a estes dois grupos, mas mesmo assim, você deve ter reconhecido os nomes das maiores fontes de informação do Brasil. É possível falar em diversidade sabendo disso? Não. Nossos principais jornais e noticiários pertencem a apenas duas das quatro maiores empresas de mídia do país. Basta que uma destas empresas adote um posicionamento para que o ouvinte/leitor/ telespectador tenha acesso àquele mesmo posicionamento em vários veículos de comunicação diferentes. Se uma outra empresa entre estas quatro adota o mesmo posicionamento, o ouvinte/ leitor/ telespectador fica praticamente sem opção. Na ausência de fontes alternativas, não tem como questionar o que ouve, lê ou vê e acaba acreditando de forma quase indiscriminada.

A despeito do terrorismo e do oligopólio midiático, teremos motivos verdadeiros para nos preocuparmos se o próximo PNAD também trouxer dados negativos. Deixará de ser uma variação comum em estatística e se tornará a confirmação de uma tendência de aumento no número de miseráveis no país. Por enquanto a variação levanta suspeitas e nos dá motivos para cobrar. Mas não para entrar em pânico. Cobrar é, aliás, nossa obrigação independente do país atingir resultados negativos. E isso não deveria ser feito só nas eleições e nem precisaria ser lembrado. A propósito, você sabe como cobrar seu candidato? Se não souber, trate de pesquisar (ou volte aqui no Flatus Políticus em alguns dias)

- Publicado em 07/11/2014, às 17:00 horas
- Última atualização em  08/11/2014 às 17:13 horas
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A Polícia Militar Deve Ser Extinta

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Por: Aline Frazão.

O leitor desavisado que vê o título já deve pensar: a autora do texto não está em seu juízo normal, e deve se perguntar: Sem a polícia, chamaremos quem para nos socorrer? O Batman ou o Chapolin Colorado?


Mas o fim de uma polícia militarizada não leva necessariamente à extinção do policiamento. As pessoas pouco sabem sobre desmilitarização.

Durante cinco anos, o jornalista Caco Barcellos investigou assassinatos cometidos pela Ronda Ostensiva da Polícia Militar de São Paulo, conhecida como Rota 66. A investigação levou à identificação de 4.200 vítimas. Todos pobres, e na sua maioria, negros. A polícia, em sua veraneio, perseguia os jovens nas ruas, e se achasse um negro, ou um jovem com características de pobre, ele era executado.

Um verdadeiro extermínio cometido com grande crueldade. Do trabalho de jornalismo investigativo, surgiu o livro Rota 66. O escritor e jornalista teve de se ausentar do Brasil durante um bom tempo, pois depois da publicação da obra, ele passou a receber ameaças, principalmente por parte de coronéis da PM.

Mas por que a PM é tão violenta?

A Polícia Militar surgiu no século XIX com a implantação da República no Brasil. Mas foi durante a ditadura militar, entre os anos de 1964 e 1985, que ela ganhou força. A estrutura daquela época persiste até hoje.

Por isso ela é truculenta, pois é treinada para trabalhar com a ideia de um inimigo permanente, que muitas vezes são os cidadãos desarmados que vão para as ruas protestarem por melhores condições de vida, como aqueles que protestaram em junho de 2013 durante a Copa das Confederações.

Todos são omissos perante a violência da polícia: a grande mídia, a justiça, o Estado... A polícia mata (os pobres é claro), porque sabe que dificilmente será punida, já que não é julgada pela justiça comum, como o restante da população, e sim, por seus próprios tribunais.

O fato curioso é que mais de 70% dos próprios militares são a favor da desmilitarização. Ou seja, eles reconhecem a falha do sistema, e assim como os cidadãos, eles também são vítimas do Governo, que é quem dita as regras do jogo.

O treinamento da polícia militar é humilhante, como já foi mostrado em vários filmes brasileiros. Eles são tratados como militares, e por isso, nunca vão tratar os cidadãos como pessoas com direitos civis.

A desmilitarização não significa desarmar policial ou tirar o uniforme deles, mas sim, mudar a estrutura da PM. Faz-se necessário... Caso isso ocorra, a Polícia Militar se tornará Polícia Civil, o que representaria a união das polícias. Outro ganho para a população. Com polícias unidas, o trabalho seria muito mais eficiente e representaria menos gasto público, pois seria apenas uma organização, e não duas.

O fim da polícia militar está sendo discutido no mundo todo e não pode passar em branco no Brasil. Ele deve vir acompanhado de outras ações como, por exemplo, a legalização, e consequentemente a regulamentação, produção, comércio e consumo de alguns tipos de drogas. A guerra contra as drogas há muito fracassou, e por causa dessa guerra o militarismo ainda é mantido.

E enquanto estudiosos pesquisam e defendem a desmilitarização e união das polícias civil e militar, outra parcela da população pede intervenção militar. Pra quem tem um mínimo de bom senso e um pouco que seja de conhecimento de história, sabe que o militarismo não condiz com o serviço que a polícia deve prestar, que é o de garantir a ordem pública.

Essas pessoas que clamam pela intervenção militar, em sua maior parte eleitores de direita (formados pelos ricos, que neste caso a PM se esforça para proteger), poderiam ter o seu problema facilmente resolvido. Basta ir para o Complexo da Maré, favela do Rio de Janeiro que está sob ocupação militar do Exército desde o dia 5 de abril deste ano. Lá a ditadura já está instalada. São inúmeras denúncias de abusos e violência contra seus 130 mil moradores... Mas, quem liga mesmo para favelados?

Fonte: EBC
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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Câncer de Próstata: 90% das mortes seriam evitadas com Diagnóstico Precoce

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Por Esequias Caetano (CRP04/35023)
Especialista em Psicologia Clínica
ecaetano@institutocrescer.com 

O Câncer de Próstata é a segunda maior causa de morte por câncer entre os homens brasileiros, perdendo apenas para o Câncer de Pulmão. Em 2012 a doença levou 1.870 (mil oitocentos e setenta) pessoas a óbito em nosso país. Infelizmente não existem dados sobre 2013 e 2014, mas tomando como referência a variação na taxa de mortalidade por câncer de próstata das últimas décadas, a tendência é piorar. Segundo dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), no ano 1990 a quantidade de óbitos causados pelo Câncer de Próstata era de 6,26 pessoas por cada cem mil habitantes. Em 2012 essa média já havia subido para 9,82 por cada cem mil. 

Tabela Mortalidade por Câncer no Brasil. Imagem-Fonte: INCA



Estes mesmos dados colocados em um gráfico ajudam a visualizar melhor a variação. Observe que em algumas ocasiões houve queda, mas invariavelmente essa queda foi seguida de um novo aumento no ano seguinte.

Gráfico Mortalidade por Câncer de Próstata no Brasil. Imagem-Fonte: INCA.

O mais assustador é que 90% dessas mortes teriam sido evitadas se os cânceres tivessem sido descobertos no início, mas infelizmente os primeiros sintomas da doença só aparecem quando ela se encontra em fase avançada e apenas 32% dos homens brasileiros fazem o exame de prevenção, o que contribuiria para o diagnóstico precoce. 

O Câncer de Próstata é diagnosticado através do Exame de Toque, em consulta com um Urologista. A maioria dos homens tem receio do exame em razão de suas características - o médico introduz o dedo no ânus do paciente, toca sua próstata e verifica se existe qualquer tipo de alteração que possa sugerir a existência de um tumor. 

Exame de Toque. Fonte-Imagem: Brasil Escola. 
O exame não gera dor, dura apenas alguns segundos e é indispensável que homens com idades acima de 40 anos o façam pelo menos uma vez por ano. Caso sejam detectadas alterações clinicamente importantes o médico solicita uma Biópsia, através da qual a suspeita de um tumor pode ser confirmada ou descartada.

Outro exame utilizado para diagnosticar o câncer é o PSA (Antígeno Prostático Específico), que busca identificar o aumento de uma proteína de mesmo nome produzida pela próstata. Trata-se de um exame clínico, bem mais simples do que o de toque, porém, muito menos efetivo na detecção do problema. Em cerca de 24 a 40% dos casos de Câncer de Próstata não há qualquer alteração no PSA e em 75 a 80% das vezes em que existe alteração na enzima, o diagnóstico não se confirma. As chances do exame de PSA errar são, portanto, muito maiores do que as chances de acertar. O exame de toque é mesmo indispensável. 

A resistência masculina em fazê-lo tem sido explicada de duas formas: 

1) Receio em relação à forma como o exame é feito;
2) Evitação da possibilidade de descobrir uma doença grave como o Câncer 

Tanto uma quanto a outra são compreensíveis, mas jamais justificáveis. Cabe à família incentivar o avô, pai, filho, irmão, primo ou tio a fazer o exame. Ainda que seja necessário insistir, é por uma causa nobre. Algumas boas formas de argumentar são:

1) Leve informação

A maioria dos homens desconhece informações básicas sobre o Câncer de Próstata. Não sabem, por exemplo, que em quase cem por cento das vezes ele é curável se for detectado em suas fases iniciais. As cartilhas da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre  e do Instituto Nacional do Câncer trazem informações valiosas que podem e devem ser compartilhadas em conversas a respeito. Você pode ainda imprimir estas cartilhas ou outros materiais para que seu familiar possa ler. 

2) Compartilhe Exemplos

Você conhece casos de pessoas que descobriram o Câncer de Próstata em suas fases iniciais e foram curadas.? E casos de pessoas que não se trataram e perderam a vida por isso? Se conhece, conte estas histórias a seu familiar, descrevendo o que aconteceu com a pessoa que teve câncer e o impacto que a doença gerou sobre sua família. Exemplos são uma das formas mais ricas de explicar alguma coisa.

3) Exponha seus sentimentos 

Ciente dos riscos associados a não fazer o exame, é bem provável que você se preocupe. Costuma ser assustadora a ideia de que uma doença curável pode levar um familiar à morte por falta de cuidados. Pense na situação e observe a si próprio: que sentimentos tem? Compartilhe estes sentimentos com seu familiar. Permita que ele saiba o quanto é importante para você tê-lo por perto, se cuidando.

4) Sugira fazer o exame em segredo

A maior parte dos homens tem vergonha de fazer o exame de toque, mas provavelmente aceitariam fazê-lo em segredo. Elabore uma lista de médicos (Clínicos Gerais ou Urologistas) constando nome, endereço e telefone de cada um deles e entregue a seu familiar. Diga a ele que pode agendar e se consultar sem que ninguém saiba. Caso ele vá ao Posto de Saúde, lembre-o que não precisa revelar o real motivo da consulta às enfermeiras ou técnicos da recepção, mas apenas ao médico, que também guardará segredo.


5) Peça apoio à família 

Com mais de uma pessoa incentivando fica mais difícil dizer "não". É importante que todos exponham o quanto consideram importante ver o familiar se cuidando. 


6)  Jamais critique ou seja agressivo

Incentivar e argumentar é muito diferente de agredir, ameaçar ou tratar com falta de respeito. Ao conversar com seu familiar, tenha o cuidado de não usar palavras agressivas, alterar o tom de voz ou usar qualquer outro gesto que possa magoar. Esse tipo de atitude tem como único efeito fazer com que seu familiar se feche ainda mais para o assunto, que além de constrangedor, torna-se fonte de conflito.

É provável, ainda, que a evitação de ir ao médico faça parte de uma classe mais ampla de comportamentos, como Esquiva Emocional ou Ausência Generalizada de Autocuidado. A Esquiva Emocional é caracterizada pela criação de desculpas ou motivos que tenham como efeito evitar ou atrasar o contato com situações emocionalmente difíceis ou emoções desagradáveis, como a possibilidade de rejeição, o risco de causar uma impressão ruim no outro ou, especificamente neste caso, a possibilidade de descobrir uma doença grave. A Ausência Generalizada de Autocuidado, por sua vez, tem o nome autoexplicativo. Ela aparece quando um indivíduo deixa de tomar atitudes simples no dia a dia que representam cuidado consigo próprio, como alimentar-se adequadamente, tomar medicamentos nos horários corretos, cuidar da própria higiene, entre tantas outras.

Casos em que existe Esquiva Emocional ou Ausência Generalizada de Autocuidado podem exigir intervenção profissional de um Psicólogo, já que os prejuízos certamente se estendem a outras esferas da vida - não só à saúde física - e a dificuldade de obter sucesso através da argumentação é muito maior. Se seu familiar não aceitar ir ao Psicólogo, assim como não vai ao médico, pode ser útil você mesmo buscar orientação sobre como lidar com a situação. Inadmissível é permitir que ele se exponha a um risco tão sério, como o de Câncer de Próstata.

Fonte: Instituto Crescer
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