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sábado, 8 de novembro de 2014

A república do café e a democracia do champagne vencido

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Por João Paulo Ribeiro

13 de março de 1964. 

João Goulart faz um discurso histórico dirigido às reformas de base na Central do Brasil. Inúmeros trabalhadores, filhos de um sistema falido, escravagista, em prol do mercado (mão invisível que açoita), estavam atentos às palavras que ele antecipou como rudes, mas de fácil compreensão.


No início, um ponto chave:

“...Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas...”

Ah, o atentado a democracia! Lembra algo recente... 


Desde a república velha, uma classe abastada financeiramente se impôs em consolidar o regime político sob a sua égide. A descentralização do poder nas oligarquias representou uma contrariedade aos anseios militares. 

Nesse meio o povo, demos sem kratos, constituiu-se de soldados abocanhados pelo sistema. Davam sustentação ao período do café paulista, do leite mineiro, da borracha do Norte e por consequência ao poder da burguesia que lutava entre si pelo poder. Os tentáculos da imprensa eram fundamentais para defender esse interesse e atacar quando o sistema era ameaçado.

Foi assim com Getúlio Vargas, um populista de ocasião, que várias vezes foi ameaçado pelo golpe do medo holofotizado pela imprensa.

Com João Goulart não foi diferente. Um transformista, que sucedeu o controverso Jânio Quadros, estava enclausurado em plena efervescência política e os inimigos que o rodeava eram muitos. Segue o discurso:

“...Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.

A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam.

A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício...”

Li o discurso de novo para ver se não houve plágio, mas não.

“...Ameaça à democracia não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tentar levar o povo a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das mais expressivas figuras do episcopado brasileiro...”

Sucedeu-se então a um movimento encabeçado pelos setores mais reacionários da sociedade: classe média e alta, Igreja Católica, imprensa, militares. Todos abraçaram a falácia da ameaça ao sistema burgocrático e depuseram Jango do poder. 

Os militares então assumiram o poder e o resto da história já é sabida, ou pelo menos sua essência.


Hoje, os ruídos da democracia ferida reverberam nesse DNA do cafeeiro. A república cafeeira e seus arautos representantes perpetuam desde 1889 essa astúcia sanguinária de gravata e aparelhada por uma máquina de fabricar mentiras, de amplificar delitos alheios, um desejo de golpe eterno. 

Os tempos são outros e hoje, amigos, a semente do demos com Kratos fez perder a validade do champagne da mídia e amargou o café. 

O leite já é nosso.

Viva a memória brasileira! Viva o Jango! Viva o povo brasileiro! 

Mesmo mergulhados em contradições nunca se viu tanta voz dos porões.

E como a democracia faz barulho!

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