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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Nem tudo é o que parece: um recado aos crocodilos da Avenida Paulista

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Há um ditado popular que diz “que nem tudo é o que parece”. Existem variações: “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Esta última encontra suas raízes em Mateus 23,27: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão!”



São duras as palavras de Jesus dirigidas aos fariseus e doutores da lei, pois denuncia o quanto eles viviam apenas da aparência dos rituais. Os rituais serviam para demonstrar zelo com a religião, mas este zelo era apenas aparente. Na prática os mestres e doutores da lei escravizavam as camadas sociais mais subalternas da sociedade judaica. Impunham sobre elas pesados fardos, que variavam desde a cobrança do dízimo, até o cumprimento de outras obrigações dirigidas à manutenção do templo, que neste caso era sinônimo de manutenção do poder e do status das castas sacerdotais.

Os fariseus não eram o que pareciam. Ainda hoje muitas pessoas não são o que aparentam ser. Como sepulcros caiados, por fora estão muito bem ornamentadas, mas por dentro encontram-se em estado de putrefação. Assim é com aqueles que trajam as suas camisas gola polo e vão para as ruas protestar. A julgar pela aparência, parecem os arautos da educação. No entanto, são tão ferozes quanto o crocodilo da Lacoste, que mais do que uma etiqueta, é a marca de uma classe que vive da ilusão de estar acima de tudo e de todos, de uma classe cuja ferocidade tem raízes na maneira como as riquezas foram produzidas e distribuídas ao longo da formação sócio-histórica do Brasil.

Num país marcado pela desigualdade na distribuição de renda, sempre foi muito fácil diferenciar de um lado os miseráveis e de outro os que podiam gozar de uma vida com razoável conforto. Quando esta diferenciação teve seus limites alterados, e os que padeciam na pobreza passaram a comer e a se vestir melhor, a pseudo burguesia entrou em crise existencial. Se o que dava sentido à sua condição de conforto era a existência de classes sociais sulbatenizadas e vitimizadas pela síndrome da invisibilidade social, tudo começa a ruir quando a invisibilidade é pintada com as cores do acesso a melhores condições de vida.

Os crocodilos trajados com suas camisas gola polo etiquetadas com o símbolo da Lacoste, e que, até então, espreitavam pela sua próxima vítima, usando para isso a camuflagem das águas escuras de sua própria ignorância política, saíram de sua letargia e começaram a atacarem com dentadas os que têm a coragem de denunciarem a sua estratégia de manutenção do status-quo: a ornamentação da aparência, cuja única função é ocultar o ódio que se esconde nas entranhas do coração. Todavia, basta colocar estes crocodilos da primavera pseudo burguesa numa lente de aumento para percebermos que não passam de lagartos inofensivos, que incapazes de usarem a democracia como a fonte de sua nutrição, alimentam-se da esperança de que um novo golpe militar os transforme no crocodilo que um dia foram, num crocodilo que sozinho reinava no rio e abocanhava as suas frágeis e indefesas vítimas.

Mas os tempos são outros. O crocodilo já não é o senhor das águas. Ele foi tragado por elas. Foi tragado por sua própria ignorância. A única saída que lhe resta é atacar, pois se sentindo acuado faz do ataque a sua única forma de defesa. No entanto, o crocodilo morde no vazio, pois seus sentidos foram entorpecidos pelo ódio ressentido que sente por aqueles que encontram na democracia os instrumentos para decidirem os rumos de suas próprias vidas.

Não desejemos aos crocodilos que clamam pela ditadura militar, que sejam transformados em bolsas e sapatos, afinal não é legítimo apelar para a violência. E nem é somente uma questão de legitimidade, de ética ou mesmo de ecologia. É uma questão de humanidade. Não é humano usar contra eles a mesma selvageria que dirigem aos seus opositores políticos.

Aos crocodilos uma mensagem final: “[...] a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mateus 12,34).

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